Há 30 anos, morria Ubaldo Conrado Augusto Wessel, cuja herança foi a criação de uma fundação voltada à difusão da arte, da ciência e da cultura
Há 30 anos, em 23 de maio de 1993, Ubaldo Conrado Augusto Wessel morreu aos 102 anos. No ano seguinte, a Fundação Conrado Wessel (FCW) foi instituída, recebendo os bens destinados por Wessel em testamento. Sem herdeiros, Conrado Wessel definiu que sua herança seria a criação de uma fundação voltada à difusão da arte, da ciência e da cultura, além da doação de recursos para entidades beneficiadas.
Em 2023, além da realização do Prêmio FCW de Ciência e do Prêmio FCW de Arte - Fotografia, que reconhecem o trabalho de importantes cientistas e artistas brasileiros, a FCW lançará uma fotobiografia para homenagear o instituidor da Fundação.
Conrado Wessel é um nome fundamental na história da fotografia brasileira, tendo criado a primeira indústria de papel fotográfico no Brasil. “(Ele) utilizou fórmulas e processos segundo sua concepção e auxiliou Valério Vieira na sensibilização do famoso painel Panorama da Cidade de São Paulo. Introduziu o papel fotográfico tamanho postal, que se tornou conhecido por Postaes Wessel Jardim e que foi largamente consumido pelos lambe-lambe”, disse o fotógrafo e historiador Boris Kossoy.
Conrado Wessel nasceu em Buenos Aires, em 16 de fevereiro de 1891, segundo filho de Guilherme Wessel e de Nicolina Krieger Wessel. Tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, na Alemanha, a família emigrou para a Argentina na década de 1860. Formado em Física na Alemanha, Guilherme foi convidado para lecionar na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo, e mudou-se com a família para a capital paulista em 1892.
Em 1900, Guilherme abriu em sociedade com Carlos Norder um estabelecimento de produtos para fotografia na rua São Bento, centro de São Paulo, que oferecia lições práticas e disponibilizava um quarto escuro para processar os trabalhos dos interessados. Os produtos eram importados e vendidos aos fotógrafos brasileiros.
Em 1906, Conrado, que havia feito seus primeiros estudos na Escola Alemã da Vila Mariana, participou de um concurso de fotografia, apresentando 25 trabalhos em um pavilhão no Posto Zootécnico de São Paulo.
Por cerca de seis meses, em 1908, Conrado foi assistente de um cinegrafista da Gaumont que veio ao Brasil filmar fazendas de café para a propaganda do produto na Europa, tornando-se um dos primeiros cinegrafistas do Brasil.
“O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França. Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo. Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa” (Folha de S.Paulo, 2 de março de 1995).
Depois de ter conquistado dois prêmios como fotógrafo, em 1911 Conrado foi para Viena, onde estudou fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt e estagiou na Casa Beissner & Gottlieb, onde se especializou em clichês para jornais e revistas. Voltou para São Paulo em 1913, com maquinário para a montagem de uma clicheria com o pai.
De 1915 a 1919, Conrado foi aluno ouvinte na Escola Politécnica e trabalhou como auxiliar no laboratório do professor Roberto Hottinger, no curso de Engenharia Química. Conrado queria criar um papel fotográfico de qualidade equivalente a dos importados – os usados eram da Kodak, da Agfa e da Gevaert – porém com preço mais baixo.
“Durante quatro anos fiz de tudo. Desde a preparação do nitrato de prata até estudos das diferentes qualidades de gelatinas. Da ação dos halogênios como bromo, cloro e iodo sobre o nitrato de prata ao brometo de potássio. Cheguei à conclusão que a mistura de uma pequena dose de iodo ao bromo dava muito melhor resultado, assim como a adição do iodo ao cloro”, disse Conrado Wessel.
A fórmula foi patenteada em 1921, em documento assinado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa (1865-1942). Foi descrita como um “novo processo para fabricação de material fotográfico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de emulsões de sais de prata ou gelatina, albumina ou colódio, servindo de suportes para estas emulsões papel, vidro, celuloide ou qualquer outro suporte que seja apropriado”.
Conrado começou a trabalhar em um pequeno prédio de seu pai, na Barra Funda. Em março de 1921 fundou a primeira fábrica de papel fotográfico da América Latina, a Fábrica Privilegiada de Papéis Fotográficos Wessel. Apesar da qualidade do papel fotográfico e de ter melhor preço, os consumidores resistiam a utilizar um produto nacional. Foi nessa época que Wessel forjou o lema que o acompanharia por toda a vida: “Insista, não desista”.
Em 1924, um acontecimento histórico ajudou os negócios de Conrado. Entre 5 e 28 de julho, São Paulo ficou sitiada devido à eclosão da Revolução dos Tenentes, liderada por Isidoro Dias Lopes (1865-1949) e motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de Minas Gerais e de São Paulo. Devido ao violento conflito urbano, faltou papel importado para os fotógrafos que atuavam, principalmente, no Jardim da Luz, e eles passaram a comprar de Wessel. Quando a rebelião terminou, o fornecimento de papel importado foi restabelecido, mas Wessel já havia conquistado uma clientela fiel. Sua empresa começou a prosperar.
Na década de 1930, Conrado adquiriu vários imóveis e terrenos, principalmente no centro de São Paulo. Em setembro de 1954, a fábrica em Santo Amaro pela Kodak e a patente de Conrado passaram a pertencer à empresa norte-americana Kodak, na época líder do mercado fotográfico, denominando-se Kodak–Wessel. Àquela altura, após décadas dirigindo seu negócio, Conrado já havia consolidado seu patrimônio, que se transformaria na Fundação Conrado Wessel.
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