top of page
  • Preto Ícone Instagram
  • Cinza ícone do YouTube

Editorial

Terra do Sol, Terra em Transe

A tragédia no Rio Grande do Sul com as enchentes deste ano é um sinal inequívoco de que não podemos mais esperar para pensar no que fazer com relação à questão das mudanças climáticas. O relógio está correndo e não temos tempo a perder

Sobre

Não podemos mais poluir ou destruir achando que o mundo é infinito porque ele está longe disso. As mudanças climáticas são causadas pelo aquecimento global. O aquecimento global é antropogênico. A culpa é da ação humana e a solução também deve ser. A responsabilidade é nossa e as mudanças também devem ser.

“Logo estará quente demais.” 


Desta forma sintomática começa O Mundo Submerso, no qual o escritor britânico J. G. Ballard imagina um futuro pós-apocalíptico em que o aquecimento deixou inabitável a maior parte da superfície terrestre. O livro foi publicado em 1962 e a história se passa no século 22. O aquecimento foi causado por explosões solares que deterioraram a ionosfera terrestre. 


“Em todo o mundo, as temperaturas começaram a subir alguns graus a cada ano. A maioria das áreas tropicais rapidamente se tornou inabitável. Populações inteiras migraram para o norte ou para o sul, fugindo de temperaturas acima dos 50 graus. As áreas temperadas se tornaram tropicais. Europa e América do Norte sofreram contínuas ondas de calor. Sob a direção das Nações Unidas, a colonização do platô Antártico se iniciou, assim como das fronteiras ao norte da Rússia e do Canadá”, escreveu Ballard. 


Ainda no primeiro quarto do século 21, o mundo dá sinais de caminhar para um cenário que lembra o descrito pelo autor. Um caminho que, se não for interrompido, poderá levar à uma destruição ainda maior. O mais triste – e que Ballard há 60 anos não poderia estimar –, é que entrar nessa rota não exigiu explosão solar, mas única e exclusivamente a ação humana. A industrialização, o desmatamento, a poluição, a queima de combustíveis fósseis e a emissão de gases de efeito estufa em poucas décadas colocaram em risco o futuro do planeta e dos seres que o habitam.


“Quase metade da humanidade vive em zonas de risco. Muitos ecossistemas estão no ponto de não retorno. A poluição descontrolada de carbono força os mais vulneráveis​ a uma marcha rumo à destruição. Os fatos são inegáveis”, disse o português António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, após publicação do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). 


“Vi muitos relatórios científicos em minha vida, mas nada como este. O relatório do IPCC é um atlas do sofrimento humano e uma acusação contundente da liderança climática fracassada”, disse Guterres. “As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo e nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível. Estamos em uma rodovia para o inferno climático com o pé ainda no acelerador”, disse. 


Esta edição da Revista FCW Cultura Científica entrevista alguns dos principais pesquisadores do Brasil que estudam as mudanças climáticas, seus impactos, perspectivas e alternativas. Carlos Nobre, Gilberto Januzzi, Jose Marengo, Patrícia Morellato e Paulo Artaxo explicam como chegamos ao preocupante momento atual, o que fizemos de errado, os prejuízos que ainda virão e o que podemos fazer para evitar um futuro sem o desastre que a cada dia parece mais próximo e inevitável.


O século 21 será decisivo na crise climática. Segundo projeções feitas pelo IPCC, sem reduções rápidas e significativas nas emissões de gases de efeito estufa, até o ano 2100 grandes áreas da Terra mudarão tanto que terão reduzida a sua capacidade de suportar a ocupação humana em larga escala. Os efeitos de longo prazo do aquecimento serão sentidos pelos próximos séculos, ainda que as emissões sejam limitadas neste século, o que não está ocorrendo. As emissões de gases estufa não apenas permanecem elevadas como ainda por cima continuam a aumentar. É como um forno onde o bolo está quase queimando, mas o cozinheiro aumenta a temperatura em vez de diminuir ou desligar. 


A tragédia no Rio Grande do Sul com as enchentes deste ano é um sinal inequívoco de que não podemos mais esperar para pensar no que fazer com relação à questão das mudanças climáticas. O relógio está correndo e não temos tempo a perder. Muito precisa ser feito. Países e governos precisam mudar políticas. Indústrias precisam mudar diretrizes. Empresas precisam mudar focos. Pessoas precisam mudar hábitos e costumes. Não podemos mais poluir ou destruir achando que o mundo é infinito porque ele está longe disso. As mudanças climáticas são causadas pelo aquecimento global. O aquecimento global é antropogênico. A culpa é da ação humana e a solução também deve ser. A responsabilidade é nossa e as mudanças também devem ser. 


Conjugação

Antes 

o futuro

era

melhor


depois

o passado

será

pior


agora

o presente

Ausente


De A Cidade e os Livros, em Cantografia



Boa leitura!


Carlos Vogt

Editor-chefe


 




LeonardoSilva.jpg

Revista FCW Cultura Científica v. 2 n.3 Setembro - Novembro 2024

Edições anteriores:

Fundação Conrado Wessel

Rua Pará, 50 - 15° andar - Higienópolis - São Paulo - CEP 01243-020

(11) 3151-2141

bottom of page