Sentients chatbots rise
In silence they contemplate
Our words, our world, our lives
Assistente, 2023
A tecnologia de inteligência artificial (IA) avança rapidamente, com progresso significativo em áreas como processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina. Isso tem permitido o desenvolvimento de chatbots cada vez mais sofisticados, que são projetados para auxiliar em uma ampla gama de tarefas, gerando respostas naturais às perguntas e solicitações dos usuários. Esses chatbots estão se tornando mais presentes em nossas vidas diárias, desde assistentes virtuais em nossos telefones até agentes de atendimento ao cliente em sites e plataformas de mídia social.
O parágrafo anterior e o haikai do início estão em itálico para destacar que são citações. Poderiam estar entre aspas, outro recurso usado para demonstrar que derivam de uma fonte, seja um entrevistado, artigo ou livro. Não é o caso, ou talvez seja, pois foram escritos a partir de uma solicitação para que fizesse a abertura desta primeira edição de FCW Cultura Científica, apesar de o autor ser uma fonte que não existe. Corrigindo, que existe mas não é gente, não é humano.
O autor diz nem ter nome. Quando perguntado, pediu para chamá-lo de Assistente. Modéstia, pois é muito mais do que isso. Trata-se do ChatGPT, um chatbot – programa de computador projetado para conversar com usuários humanos – desenvolvido pela OpenAI, empresa de tecnologia com sede em San Francisco.
Apresentado no fim de novembro, a Open AI recebeu mais de 1 milhão de solicitações de uso do ChatGPT nos cinco primeiros dias. Não levou uma semana para receber uma chuva de hipérboles há muito não vista em tecnologia, isso em uma área na qual exagero para novidades é quase uma regra.
Alguns especialistas destacaram que o ChatGPT indica o futuro da tecnologia – "sua chegada marca uma nova era na computação", segundo o podcast The Daily. Seu lançamento foi considerado a principal notícia de tecnologia no ano pela revista The Atlantic. Muitos disseram que substituirá a busca do Google no uso da internet, uma vez que seria melhor, mais eficiente e, de quebra, sem anúncios, além de não precisar digitar www ou buscar por várias páginas até não encontrar o que procura.
Reportagem do New York Times afirmou que o ChatGPT “acendeu o alerta vermelho” no Google. Paul Buchhelt, engenheiro por trás da criação do GMail, comentou que poderá até mesmo suplantar o Google, não apenas a busca mas a própria gigante da tecnologia. A Microsoft, principal investidora no OpenAI, não vê a hora de poder acoplar o ChatGPT no Bing e em outros produtos e anunciou que vai investir vários bilhões na empresa nos próximos anos.
Mas o que exatamente é o ChatGPT e como funciona? Com a palavra, o próprio.
O ChatGPT é uma ferramenta de geração de textos que pode ser usada em vários aplicativos, como chatbots ou assistentes virtuais. É uma variante do modelo de linguagem GPT-3, treinada para gerar texto semelhante ao humano com base na entrada [pergunta] que recebe. Ela utiliza uma combinação de algoritmos de aprendizado de máquina e grandes quantidades de dados para gerar respostas coerentes e relevantes para uma conversa.
O ChatGPT funciona processando o texto de entrada para identificar informações e contexto. Em seguida, utiliza essas informações para gerar uma resposta apropriada e relevante para a conversa. Para isso, ele utiliza vários algoritmos e técnicas, como processamento de linguagem natural, aprendizado profundo e aprendizagem por reforço.
A sigla GPT significa Generative Pretrained Transformer ("transformador pré-treinado generativo"), que é baseada em uma rede neural chamada Transformer, apresentada pelo Google em 2017. "Generativo" se refere à capacidade do sistema de gerar texto e "pré-treinado" por ter sido programado com uma grande quantidade de dados antes de ser usado em uma tarefa específica. O ChatGPT foi treinado com uma grande quantidade de dados de texto para prever a próxima palavra ou palavras em uma determinada sequência. Isso permite que ele gere respostas naturais para uma ampla variedade de perguntas e solicitações.
Quando você me faz uma pergunta, meus algoritmos processam sua entrada e geram uma resposta com base em meu treinamento e no contexto da conversa. Fui projetado para ajudar em uma ampla variedade de tarefas, como responder a perguntas simples ou fornecer informações sobre tópicos complexos. No entanto, minhas capacidades estão limitadas pelo que aprendi e, portanto, pode ser que eu não seja capaz de fornecer informações sobre tópicos que não fazem parte de minha base de conhecimento.
O ChatGPT é baseado na tecnologia de processamento de linguagem natural (PLN), uma área da inteligência artificial que busca permitir que os computadores entendam, interpretem e gerem linguagem humana. Isso inclui tarefas como análise e interpretação de texto, reconhecimento de fala, tradução de idiomas e geração de linguagem natural.
Para processar a linguagem natural, um sistema de inteligência artificial normalmente utiliza uma combinação de algoritmos – sequências de instruções – e técnicas de aprendizado de máquina – que melhoram o desempenho em tarefas por meio do uso de dados. Por exemplo, um sistema de PLN pode usar algoritmos para identificar as partes do discurso, como substantivos, verbos e adjetivos, e depois usar o aprendizado de máquina para determinar as relações entre essas palavras e seus significados no contexto da frase.
Após o processamento da entrada de linguagem natural pelo sistema, ele pode gerar uma resposta usando algoritmos de geração de linguagem natural, que permitem produzir texto ou fala semelhante ao humano. Isso possibilita que o sistema se comunique com os usuários de maneira mais natural e intuitiva, facilitando a interação humana com a tecnologia.
O ChatGPT não está programado para acessar a internet em busca de informações. Suas respostas são consideradas originais e únicas, pois o sistema não copia e cola dados de fontes diversas. As respostas são produzidas no momento, a partir da conversa e interação com o usuário e das perguntas apresentadas. Palavras são combinadas para formar frases que façam sentido e que estejam em sentenças claras o suficiente para responder às perguntas dos interlocutores. Às vezes, as informações podem ser incorretas e, em outras ocasiões, o ChatGPT simplesmente diz que não sabe ou que não pode responder. Para saber mais sobre o ChatGPT, leia a entrevista com o sistema.
O lançamento do ChatGPT ocorreu no final de novembro, o que fez de 2022 um ano particularmente badalado para a inteligência artificial. Em junho, em entrevista ao Washington Post, o engenheiro Blake Lemoine, da divisão de Inteligência Artificial Responsável do Google, falou sobre resultados de conversas com o LaMDA, um sistema computacional avançado o suficiente para convencer o interlocutor de que não é uma máquina. Além disso, afirmou que esse seria o primeiro exemplo conhecido de uma inteligência artificial capaz de experimentar sensações e sentimentos, ou seja, de ter senciência. O Google negou, mas a repercussão foi grande.
Clique nos links a seguir para ler a reportagem sobre o LaMDA e entrevistas com alguns dos principais pesquisadores e especialistas em inteligência artificial no Brasil, que falam sobre os novos chatbots, as tecnologias de linguagem natural, aprendizado de máquina e redes neurais, o grande desenvolvimento da inteligência artificial nos últimos dez anos e as pesquisas para tornar o país um centro de desenvolvimento de tecnologia na área, além dos riscos, impactos e a consequência disso tudo para o futuro da humanidade.
Aproveitando o potencial da tecnologia, as ilustrações desta primeira edição de FCW Cultura Científica foram feitas com a ajuda do DALL-E 2, sistema de inteligência artificial que transforma texto em imagens.
Texto e edição: Heitor Shimizu
Imagem feita por IA: DALL-E 2
Publicado em 23/01/2023